As imagens são chocantes. Na primeira, um policial turco encontra o corpo de um menino sírio na costa de Bodrum, balneário popular no verão europeu. De camiseta vermelha e bermuda azul, ele está de bruços, com o rosto para baixo, próximo à linha da água. Na segunda foto, o policial é visto carregando o corpo da criança para fora da praia.
O garoto era uma das 12 pessoas que perderam a vida na travessia marítima em direção à ilha grega de Kos. Entre os mortos havia outras quatro crianças e uma mulher.
A Europa enfrenta uma das mais graves crises migratórias da sua história recente. Milhares de sírios trocam a perspectiva de uma morte certa em território controlado pelo Estado Islâmico pela possibilidade de sobreviver no continente europeu. Em muitos casos, como o de hoje, a esperança termina em tragédia.
A notícia é relevante e merece destaque. Mas a imagem forte deveria estampar a primeira página do UOL, acessada por milhões de pessoas todos os dias? Nossos usuários deveriam, sem qualquer aviso prévio, ser impactados pela foto?
Nós entendemos que sim.
Imagens influenciam o curso da história. Em 1972, a foto de uma menina vietnamita correndo nua após o lançamento de bombas incendiárias perto de Trang Bàng fortaleceu o movimento antiguerra, que terminou três anos depois.
A decisão de hoje não foi fácil. Além de jornalistas, somos pais, mães, filhos, tios. E as fotos nos comovem profundamente. Provavelmente seremos acusados de sensacionalismo e de busca por audiência fácil -- quando o cenário mais provável é que a imagem espante as pessoas, em vez de atraí-las.
Mas o jornalismo existe para informar. E palavras não descreveriam com a força necessária a dimensão da tragédia em curso na Europa e Oriente Médio. Não nos compete suavizar a realidade, mas sim retratá-la com precisão.
http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2015/09/02/por-que-publicamos-a-imagem-do-menino-sirio-afogado.htm
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